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Isto É Peanurs

A qualidade das letras apresentadas no FC 2015

 Já todos sabemos, uns melhor que outros, que a qualidade musical do Festival da Canção é duvidosa. Este ano havia uma boa música que acabou por não ser a vencedora. Mas não é de coisas tristes que pretendo falar hoje. Quero antes partir para uma análise detalhada da letra de uma das canções concorrentes ao Festival. Todos nós estamos habituados àquelas canções que falam de "mar", "saudade", "fado", "Portugal" e blá blá blá. No geral foi disto que falaram as letras, umas melhor, outras pior. Inclusivé a nossa representante é "Há um mar que nos separa" e lá pelo meio diz que esse mar vai ser seco de "saudade". Ah, a originalidade!


Apresento-vos agora um belo poema (apenas o refrão) que faz parte da canção "Tu tens uma mágica":

"Tu tens o poder
Tu tens uma mágica
Vamos gritar até ficar afónicos
 Saiu no jornal
Não é nada lógico
Tens garras de metal
O que é fundamental p'ra chegar ao sol"

Sem usarem os típicos clichés portugueses, Gonçalo Tavares (o compositor e interprete) e José Cid (letrista) conseguiram ao mesmo tempo fazer uma homenagem ao Wolverine e resolver uma das mais antigas lendas gregas.

Comecemos pelo princípio. 

"tu tens uma mágica": Hoje estava no comboio e vi um anúncio do Disney on ice com o slogan: "100 anos de magia". Errado! 100 anos de mágica. Assim é que é. As pessoas não sabem, mas o acordo ortográfico alterou isto.
"vamos gritar até ficar afónicos": É de mau gosto gozar com os colegas (neste caso a Adelaide Ferreira) que não conseguiram passar à final do festival.
"não é nada lógico": o  que é que não é lógico? Só se for a derrota desta bela canção. À parte disso não vejo nada ilógico.
"tens garras de metal": Cá está. Numa clara alusão ao Wolverine, os letristas mostram-nos que não é só nas séries que a Marvel está ao rubro. Falar de personagens da banda desenhada em canções concorrentes à Eurovisão foi algo de que nunca ninguém se lembrou. Nem cá nem noutros países. Ainda dizem que o Festival cheira a mofo com tanta inovação?!
"o que é fundamental p'ra chegar ao sol": partindo do princípio que isto não são frases soltas que os autores da letra decidiram pôr na música, temos aqui a resolução do problema de Ícaro. Todos nós conhecemos a trágica história de Ícaro que quis voar demasiado alto e acabou com as asas queimadas pelo sol. Não acho que seja possível chegar assim tão perto do sol de modo a que ele nos queime (mas para os gregos tudo é possível) mas a sê-lo, já sabemos como fazê-lo sem que nos aconteça o que aconteceu a Ícaro. O Wolverine não terá problemas em voar até ao céu, no entanto não conheço mais ninguém com garras de metal e portanto o sol acabaria por se tornar um local desabitado e desinteressante.

Calculo que, quando escreveram esta bela letra, Gonçalo Tavares e José Cid não esperavam ter alguém a analisá-la verso por verso, mas o meu tempo livre assim o permite.

Para os que acham que eu posso estar a inventar isto tudo, podem ver e ouvir esta bela canção aqui. Já agora fica também o link para a vencedora aqui e para a minha preferida aqui.

A r3virav0lta do Sporting

Infelizmente não pude ver a quase-r3virav0lta do Sporting com a atenção que queria. Comecei a ver o Besiktas vs. Liverpool às 18h e planeava ver a r3virav0lta logo de seguida. Infelizmente as coisas não correram como eu desejava. O Besiktas acabou por marcar um golo o que levou o jogo a prolongamento e posteriormente a penaltis. Foi chato. Primeiro porque não aprecio que as equipas com as quais simpatizo tenham de enfrentar penaltis (principalmente quando não têm o Gerrard), mas sobretudo porque o jogo se prolongou e não me permitiu ver a r3virav0lta.

Acabado o jogo do Liverpool (que perdeu, como seria de esperar) liguei prontamente a televisão para ver a r3virav0lta. Infelizmente deu-me a fome. Mantive a televisão ligada (que eu aprecio sempre barulho de fundo enquanto janto) e fiz o jantar, jantei, lavei a loiça e ainda li um texto para uma aula que tenho amanhã. Enquanto fiz isto tudo, a r3virav0lta continuo a não passar de um hashtag e os comentadores da SIC tiveram no mínimo quarenta e sete mini ataques cardíacos. Sofreram mais que a Juve Leo. 

Como não posso comentar o jogo, porque não lhe dei a devida atenção (com excepção das partes em que o jornalista da SIC gritava de uma maneira que se ouvia do Campo Grande aqui) opto por comentar as fantásticas frases saídas da boca do comentador da SIC. É fácil criticar o Nuno Luz, difícil é encontrar alguém ainda pior. Não queria estar a gabar-me de ter conseguido um feito impossível, mas penso que consegui mesmo. 

Primeiro que tudo, importa esclarecer os mais incultos que o Tanaka não se chama Tanaka mas sim Tanako. É mais ou menos como o Dzeko passar para Zdeko e o Joe Hart para Jo Ar na TVI. Mas melhor que isso é estar a ver um jogo em que o Sporting está a perder a eliminatória por 2.0 e criticar-se o Liverpool que perdeu nos penaltis porque, e cito, "quem calha com o Liverpool tem sempre grandes hipóteses de passar". Ui, vamos gozar os que perderam nos penaltis e não tinham metade dos titulares em campo e exaltar a r3virv0lta do nosso querido Sporting.

Logo depois disto saiu uma frase que gostaria de analisarem três partes distintas:
O jogo do Feyenoord foi interrompido: até aqui tudo bem. É uma informação que, para mim pode não ser muito útil, mas para outros será.
O jogo do Feyenoord foi interrompido. Não estou a ver o jogo: a sério? Então estás a comentar o Sporting vs. Wolfsburgo e não estás a ver o Feyernoord? Vergonhoso!
O jogo do Feyenoord foi interrompido. Não estou a ver o jogo, mas sendo na Holanda deve ser por causa de mau comportamento dos adeptos: mas isso não é mais para os lados da Turquia? Interrompem-se muitos jogos de futebol na Holanda por mau comportamento de adeptos? Curioso eu não me lembrar de nenhuma situação dessas. Mas da mesma forma que ele supôs que esta seria a razão, eu preferi supor que uns aliens estacionaram a sua nave espacial em pleno estádio no meio do jogo. Posso estar certa ou errada. Curiosamente o jornalista da SIC também pode estar certo ou errado e não deixou de dizer o que disse em directo. Cada vez mais me convenço que é por este tipo de coisa que não posso ser jornalista. Não consigo inventar justificações pouco originais como "mau comportamento".

De qualquer das formas foi revigorante "ver" a quase-r3virav0lta do Sporting. É engraçado como é que, estando tantos anos de fora da Europa, se fartaram tão rapidamente. 

Eu contesto

Parece que há quem faça anos hoje. Tal como há pessoas que fazem anos amanhã, sábado ou daqui a um mês. Mas hoje é importante. Porquê? Porque a TVI o diz e eu gosto sempre de me guiar por aquilo que a TVI diz. Ontem estava a ver o telejornal - que é a hora sagrada cá em casa (ou no caso da TVI, as horas) - quando vejo uma reportagem sobre o aniversário do Ronaldo seguida de um "é o melhor jogador de sempre e ninguém o pode contestar". Ora eu, até posso estar errada, mas contesto. Então agora os jornalistas da TVI dizem-me o que posso ou não contestar? Deixámos de ser todos charlie e eu não me apercebi? Não posso contestar que o Ronaldo não é o melhor jogador de sempre? Não posso afirmar que, de todos os que tive o prazer de ver o jogar, o Figo é aquele que elejo o melhor português de sempre? 

Mas voltando ao que realmente (não) interessa - o aniversário do Ronaldo. Sinto que estamos a celebrar pouco o aniversário do incontestável melhor de sempre. Uma transmissão de 24 horas na TVI 24 sobre o incontestável melhor de sempre não me chega. Onde estão os cortejos? Onde estão o Somos Portugal e o Portugal em Festa?

incontestável melhor de sempre já é mais relevante para o nosso país do que foi Luís de Camões. Camões escreveu um mísero livro sobre os feitos dos portugueses em dez cantos com 8816 versos decassílabos e sempre com o mesmo esquema: ABABABCC. O incontestável melhor de sempre dá pontapés numa bola, faz umas fintas, ganhou uns quantos prémios e diz que a selecção é uma m**** quando não consegue passar a fase de grupos no mundial (um capitão exemplar como já não há). A 10 de junho celebra-se o dia de Portugal, dia esse que coincide com o dia de Camões. Então Luís de Camões por escrever um livro tem direito a feriado e o incontestável melhor de sempre não? Em que mundo injusto é que vivemos? Ninguém se revolta? Há revoltas porque os medicamentos da Hepatite C não chegam aos pacientes, mas quando chega a hora de nos revoltarmos contra coisas que realmente interessam, ninguém é capaz de dar o primeiro passo.

Proponho que, de hoje em diante, o dia 5 de fevereiro seja proclamado feriado internacional para que o aniversário do incontestável melhor de sempre possa ser devidamente celebrado por todas as pessoas. É o mínimo que podemos fazer pelo incontestável melhor de sempre. 

Castings dos programas ditos de talentos

Há uns dias surgiu na internet uma revolta imensa devido ao casting do Mastechef Portugal, inclusive foram publicadas notícias sobre o assunto. Não posso de todo opinar sobre esta situação em específico porque não fui fazer o casting (até porque não sei cozinhar). De qualquer das formas não percebi o espanto das pessoas com isto.

Eu, que passei nada mais nada menos do que 14 horas na fila da primeira edição do Factor X, parto do princípio que já conheço estes esquemas todos. Como adorei a minha experiência, passo a contá-la. Mandaram-nos estar lá às 7 da manhã. Ponto 1: cantar de manhã é muito mais complicado do que da parte da tarde. Ponto 2: eles já sabiam que não iam começar às 7 da manhã e que nós só íamos para lá tão cedo cansarmo-nos. É verdade que as pessoas que nos avaliam não sabem nada de música, mas a verdade é que a voz também se cansa. 

Passadas duas belas horas de desespero (já com milhares e milhares na fila) chegam as pessoas que fazem parte da produção do concurso. Pensámos que era agora que os castings iam começar. Nada disso. Primeiro vamos só gravar mil e uma vezes os concorrentes  e acompanhantes a dizer "factor x" e a fazerem um "x" com os braços. Obviamente eu desisti de fazer o que me mandavam depois da primeira vez. Passado isto começámos a andar (UAU). Mas íamos parando para que pudessem gravar o pessoal com as guitarras a cantarem. Pediam-lhes para cantarem, porque já ninguém estava com paciência. Na televisão pareciam todos muito felizes.

Os castings, segundo o que ouvi dizer, começaram depois do meio-dia (sim, cinco horas depois daquela a que nos mandaram estar lá). Estava um calor horrível. Algures durante a tarde chamaram-nos para fazer um "x" gigante (aquele que apareceu no início do programa). Disseram-nos que nos iam levar para dentro do Teatro Camões para nos convencerem a ir. Estivemos lá uma boa meia hora. 

Fui até ao Vasco da Gama, voltei e ainda estava longe do meu número. Eram 9 da noite quando me chamaram para a fila. Estavam imensas pessoas ainda lá dentro para fazerem o maldito casting. A esta hora já eu me estava a arrepender de ter ido, mas pensei para mim "vá Jessica, já te chamaram, agora aguentas mais um bocado". Veio um senhor da produção falar connosco para nos dizer que tínhamos duas opções: ou esperávamos e fazíamos o casting provavelmente às 2 ou 3 da manhã, ou íamos embora e voltávamos no dia seguinte. Fiquei pior que estragada. Eu e as pessoas que estavam ao pé de mim não fazíamos mais nada a não ser reclamar. 

Regressei no dia seguinte (estive mesmo para não o fazer). Tinham-me pedido para levar três instrumentais de músicas gravadas num cd. Quando entrei para a sala de casting (onde todos se ouviam uns aos outros) a mulher da produção que lá estava pediu-me para cantar. Perguntei-lhe se queria acapela e ela disse-me que sim. Podia ter preparado qualquer música, mas tive de me focar naquelas que tinham instrumental.

Fiz a porcaria do casting (onde obviamente não passei) e quando saí era a pessoa mais feliz do mundo. O terror das mil e uma horas à espera estava acabado. Nem conseguia acreditar. Das pessoas que foram comigo (e ainda eram umas 20), não passou nenhuma. Talvez porque não temos talento, talvez porque as pessoas da produção sabem tanto de música como o Jorge Jesus, talvez porque já estavam fartos de ouvir pessoas a cantar. Sei que foi a única coisa com que a SIC se preocupa são imagens bonitas de pessoas felizes para passar ao público. 

Foi o pior dia da minha vida (juro que foi) e é por isso que prometi a mim mesma NUNCA mais me inscrever em nada vindo da SIC. 

Programas de domingo à tarde

Muito se fala sobre os programas de domingo à tarde, sobretudo aos domingos à tarde. Ninguém se choca se eu disser que a televisão não dá absolutamente nada de jeito (com excepção de um jogo de futebol de século a século) mas os domingos são especialmente perturbantes. 

Aquilo que me chateia nem é a "qualidade" das músicas apresentadas. Eu vejo o Festival da Canção e a Eurovisão há bastantes anos portanto estou habituada a músicas péssimas. Aquilo que realmente me chateia é o facto de aqueles "cantores" poderem gravar cd's. Não sei se pagaram para os gravar (calculo que sim) mas - geralmente - se pagamos a um polícia para que "esqueça" que matámos alguém, somos acusados de homicídio e ainda de corrupção. Esta gente que grava estes cd's não é acusada de nada apesar de cometer um crime que considero estar ao mesmo nível do homicídio. Gravam o cd, destroem tímpanos, mas estão na televisão a fazer aquilo de que gostam (ou pelo menos assim calculo). 

Com tantas excelentes vozes que temos neste país... É de revoltar!