Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Isto É Peanurs

Fora das quatro linhas

Sempre houve ódio no futebol e isso é um dado adquirido. O que nem sempre houve foram órgãos de comunicação social a espalhar esse ódio. No meu tempo faziam-se notícias sobre futebol e menos sobre extra futebol. No meu tempo os programas para discutir futebol serviam, surpreendentemente, para discutir futebol ao invés do que acontece hoje em dia em que esses programas servem para três atrasados mentais gritarem uns com os outros. Fui lendo umas frases aqui e ali sobre o atropelamento desta madrugada até que decidi ir informar-me no jornal mais vendido do país. O Correio da Manhã conquistou-me logo com o título da notícia:

 

r.png

 

"Adepto do Sporting assassinado junto ao Estádio da Luz". Notem que se o senhor fosse adepto, diga-mos, da Fiorentina, o impacto deste título seria nulo. Ou se fosse um adepto do Sporting assassinado em frente ao Continente de Telheiras. Ou, ainda mais radical, um homem atropelado em Lisboa. Nenhum destes títulos dava tantos cliques e, curiosamente, também nenhum deles espalhava tanto ódio. Abrimos a notícia e temos um festival de suposições: "Um italiano ligado à Fiorentina mas que também será adepto do Sporting", "Marco Ficini, de 41 anos, estaria com elementos da claque leonina Juve Leo, de que faria parte"... Os "será", "estaria" e "faria" criam um clima de certeza mas ao mesmo tempo de dúvida. Isto é o melhor que se pode fazer no "jornalismo": não há certezas? Mete-se um talvez que o pessoal acredita e nós depois podemos desmentir dizendo que nunca fizemos afirmações.

 

Estou ansiosamente à espera para ver como vai ser tratado este caso no Prolongamento, aquele programa onde se discute tão bem o que se passa nas quatro linhas. É curioso que tirei Ciências da Comunicação porque queria ser jornalista de desporto e, hoje em dia, não me consigo identificar sequer com o jornalismo feito neste país. Se há bom jornalismo e bons jornalistas? Claro que há. Ainda há umas semanas tive o prazer de conhecer o Carlos Daniel e dizer-lhe o quanto o admiro enquanto jornalista e comentador desportivo. O problema do mau jornalismo são as pessoas que lêem/vêm este lixo, porque no momento em que o sensacionalismo deixar de vender, os órgãos de comunicação social vão ter de apostar noutra coisa. Até lá vão-se alimentando ódios. 

Não, eu não sou Charlie

Depois dos atentados do Charlie Hebdo a hashtag #JeSuisCharlie foi usada até à exaustão. Nunca a usei por um motivo simples: não posso ser algo que não conheço a 100%. Como licenciada em Ciências da Comunicação, sempre prezei a liberdade de imprensa, mas toda a liberdade tem limites. No Charlie Hebdo deviam saber isso melhor que ninguém. 

 

O jornal francês fez uma caricatura em que o miúdo que morreu, e cuja foto do corpo estendido na praia correu o mundo, onde este aparece já mais velho, com uma cara de porco e a correr atrás de uma mulher numa clara alusão ao que se passou na Alemanha na passagem de ano. 

 

 

A mim sempre me ensinaram o que é respeito. Infelizmente nem todos têm essa sorte. O Charlie Hebdo sempre mexeu com a religião e a religião é um dos temas em que o humor precisa de cuidado, muito cuidado. 

 

Lembro-me de estar numa aula de escrita de comédia e de alguém perguntar ao Ricardo Araújo Pereira quais eram os limites do humor. Ele disse que o humor não os tinha, que podíamos rir com qualquer assunto. Daí a conversa partiu para o humor negro. De facto, acredito que o humor possa ser usado em tudo, inclusive na religião. Tem é de ser pensado. E os jornalistas do Charlie Hebdo não pensam. Limitam-se a servir uma vingaça. Isto não é humor. Ninguém se ri com isto. Tal como eu nunca me ri com as poucas caricaturas que tinha visto ainda antes dos atentados ao jornal. É por isso que nunca fui Charlie. Não bastam meia dúzia de risco e uma frase satirica para se chamar humor. 

Campeões da comunicação social

Hoje passei os olhos pelas capas dos desportivos e O Jogo dizia algo como "Mourinho queria Luisão" e o Record algo do género "Vieira segurou Luisão". Saí da papelaria a rir, como era de esperar. Luís Filipe Vieira é o grande campeão da comunicação social neste país.

Ponto 1. Para que raios é que o Mourinho queria o Luisão? Não desfazendo do capitão (que é um dos meus jogadores preferidos do Benfica), os 30 e muitos anos não me parecem uma boa aposta para um clube que luta pelas competições internas e europeias (se bem que este ano parece que lutam pela permanência na Premier League). 

Ponto 2. O LFV não podia pedir aos jornalistas que escrevessem sobre um clube menos famoso? Ele chegou a olhar para o plantel do Chelsea? Uma pesquisa rápida na wikipédia mostrava-lhe que o Luisão não tinha lugar no Chelsea. Ficava com o lugar de quem? Do Terry?

Mas que o presidente do Benfica sabe como se defender dos seus erros, ninguém pode negar. Fecha o mercado e o Benfica continua sem laterais. Muito se falou do regresso do Siqueira que, segundo o Correio da Manhã (essa fonte fidedigna) não aconteceu porque o Jorge Mendes esteve "incontactável". 

Conclusão: Temos a equipa menos forte dos últimos anos, mas se não fosse LFV, nem capitão tínhamos. Amanhã vou a Fátima acender uma vela e rezar pelo presidente!

Nobody cares

O casamento do Jorge Mendes tem sido muito falado na imprensa. E não é só na imprensa cor-de-rosa. É em toda a imprensa. Quando eu ponho gosto numa página de um jornal no facebook (um que não o Correio da Manhã) espero que me informem sobre coisas relevantes (principalmente sobre futebol). É o que acontece. O casamento do Jorge Mendes é quase o acontecimento do ano. Não foi transmitido na SIC e TVI porque não tinha número de valor acrescentado para onde ligar e ganhar uns milhares de euros.

Mas parece-me importante perceber o porquê de tanto alarido à volta deste casamento. Jorge Mendes é uma celebridade internacionalmente conhecida por todos aqueles que são portugueses e simultaneamente apreciam futebol. É adorado por uma elevada percentagem do grupo anteriormente citado: mais ou menos uns 15%. E é ainda o grande patrão da selecção nacional, apesar de apenas os 85% restantes perceberem isso.

É por isto que o casamento do Jorge Mendes é tão relevante. É por isso que merece tantas notícias. Só eu é que não quero saber. Mas eu tenho problemas, toda a gente sabe isso.

Já vendemos a águia?

O Jonas vai para a China, o Lima vai para a China, o Maxi para o Porto, o Gaitán para metade dos clubes deste mundo, o Salvio também. Com isto tudo os únicos que os jornais desportivos não "vendem" são os adeptos (ainda).

Eu até entendo estas notícias. Em época de férias das competições de clubes e sem mundial ou europeu é normal que não existam tantas notícias, mas pelo menos sejam originais. A história do Gaitán é a mesma todos os anos. Parecendo que não, cansa ouvir sempre o mesmo. Inventem lá uma notícia em que compramos o Messi e vendemos o Eliseu por 50 milhões ao United ou assim. 

A r3virav0lta do Sporting

Infelizmente não pude ver a quase-r3virav0lta do Sporting com a atenção que queria. Comecei a ver o Besiktas vs. Liverpool às 18h e planeava ver a r3virav0lta logo de seguida. Infelizmente as coisas não correram como eu desejava. O Besiktas acabou por marcar um golo o que levou o jogo a prolongamento e posteriormente a penaltis. Foi chato. Primeiro porque não aprecio que as equipas com as quais simpatizo tenham de enfrentar penaltis (principalmente quando não têm o Gerrard), mas sobretudo porque o jogo se prolongou e não me permitiu ver a r3virav0lta.

Acabado o jogo do Liverpool (que perdeu, como seria de esperar) liguei prontamente a televisão para ver a r3virav0lta. Infelizmente deu-me a fome. Mantive a televisão ligada (que eu aprecio sempre barulho de fundo enquanto janto) e fiz o jantar, jantei, lavei a loiça e ainda li um texto para uma aula que tenho amanhã. Enquanto fiz isto tudo, a r3virav0lta continuo a não passar de um hashtag e os comentadores da SIC tiveram no mínimo quarenta e sete mini ataques cardíacos. Sofreram mais que a Juve Leo. 

Como não posso comentar o jogo, porque não lhe dei a devida atenção (com excepção das partes em que o jornalista da SIC gritava de uma maneira que se ouvia do Campo Grande aqui) opto por comentar as fantásticas frases saídas da boca do comentador da SIC. É fácil criticar o Nuno Luz, difícil é encontrar alguém ainda pior. Não queria estar a gabar-me de ter conseguido um feito impossível, mas penso que consegui mesmo. 

Primeiro que tudo, importa esclarecer os mais incultos que o Tanaka não se chama Tanaka mas sim Tanako. É mais ou menos como o Dzeko passar para Zdeko e o Joe Hart para Jo Ar na TVI. Mas melhor que isso é estar a ver um jogo em que o Sporting está a perder a eliminatória por 2.0 e criticar-se o Liverpool que perdeu nos penaltis porque, e cito, "quem calha com o Liverpool tem sempre grandes hipóteses de passar". Ui, vamos gozar os que perderam nos penaltis e não tinham metade dos titulares em campo e exaltar a r3virv0lta do nosso querido Sporting.

Logo depois disto saiu uma frase que gostaria de analisarem três partes distintas:
O jogo do Feyenoord foi interrompido: até aqui tudo bem. É uma informação que, para mim pode não ser muito útil, mas para outros será.
O jogo do Feyenoord foi interrompido. Não estou a ver o jogo: a sério? Então estás a comentar o Sporting vs. Wolfsburgo e não estás a ver o Feyernoord? Vergonhoso!
O jogo do Feyenoord foi interrompido. Não estou a ver o jogo, mas sendo na Holanda deve ser por causa de mau comportamento dos adeptos: mas isso não é mais para os lados da Turquia? Interrompem-se muitos jogos de futebol na Holanda por mau comportamento de adeptos? Curioso eu não me lembrar de nenhuma situação dessas. Mas da mesma forma que ele supôs que esta seria a razão, eu preferi supor que uns aliens estacionaram a sua nave espacial em pleno estádio no meio do jogo. Posso estar certa ou errada. Curiosamente o jornalista da SIC também pode estar certo ou errado e não deixou de dizer o que disse em directo. Cada vez mais me convenço que é por este tipo de coisa que não posso ser jornalista. Não consigo inventar justificações pouco originais como "mau comportamento".

De qualquer das formas foi revigorante "ver" a quase-r3virav0lta do Sporting. É engraçado como é que, estando tantos anos de fora da Europa, se fartaram tão rapidamente. 

Eu contesto

Parece que há quem faça anos hoje. Tal como há pessoas que fazem anos amanhã, sábado ou daqui a um mês. Mas hoje é importante. Porquê? Porque a TVI o diz e eu gosto sempre de me guiar por aquilo que a TVI diz. Ontem estava a ver o telejornal - que é a hora sagrada cá em casa (ou no caso da TVI, as horas) - quando vejo uma reportagem sobre o aniversário do Ronaldo seguida de um "é o melhor jogador de sempre e ninguém o pode contestar". Ora eu, até posso estar errada, mas contesto. Então agora os jornalistas da TVI dizem-me o que posso ou não contestar? Deixámos de ser todos charlie e eu não me apercebi? Não posso contestar que o Ronaldo não é o melhor jogador de sempre? Não posso afirmar que, de todos os que tive o prazer de ver o jogar, o Figo é aquele que elejo o melhor português de sempre? 

Mas voltando ao que realmente (não) interessa - o aniversário do Ronaldo. Sinto que estamos a celebrar pouco o aniversário do incontestável melhor de sempre. Uma transmissão de 24 horas na TVI 24 sobre o incontestável melhor de sempre não me chega. Onde estão os cortejos? Onde estão o Somos Portugal e o Portugal em Festa?

incontestável melhor de sempre já é mais relevante para o nosso país do que foi Luís de Camões. Camões escreveu um mísero livro sobre os feitos dos portugueses em dez cantos com 8816 versos decassílabos e sempre com o mesmo esquema: ABABABCC. O incontestável melhor de sempre dá pontapés numa bola, faz umas fintas, ganhou uns quantos prémios e diz que a selecção é uma m**** quando não consegue passar a fase de grupos no mundial (um capitão exemplar como já não há). A 10 de junho celebra-se o dia de Portugal, dia esse que coincide com o dia de Camões. Então Luís de Camões por escrever um livro tem direito a feriado e o incontestável melhor de sempre não? Em que mundo injusto é que vivemos? Ninguém se revolta? Há revoltas porque os medicamentos da Hepatite C não chegam aos pacientes, mas quando chega a hora de nos revoltarmos contra coisas que realmente interessam, ninguém é capaz de dar o primeiro passo.

Proponho que, de hoje em diante, o dia 5 de fevereiro seja proclamado feriado internacional para que o aniversário do incontestável melhor de sempre possa ser devidamente celebrado por todas as pessoas. É o mínimo que podemos fazer pelo incontestável melhor de sempre. 

Jornalismo futurista vs. jornalismo de redes sociais




Que o jornalismo está cada vez pior já não é novidade, mas o que verdadeiramente me intriga nos últimos tempos é o surgimento de alguns tipos de jornalismo sobre os quais não aprendi nada na faculdade. Talvez seja devido à minha falta de conhecimento sobre tal que não consigo arranjar um emprego. Vendo bem as coisas, também não apreciaria ter um emprego em que teria de produzir artigos que remetem ao passado com um verbo no futuro.

Examinemos então a "notícia" do lado esquerdo da imagem. A crónica do Ricardo Araújo Pereira da Visão da semana passada  mostra-nos (e bem) o valor do terá. O verbo "ter" está conjugado no futuro, no entanto a notícia aponta-nos para o presente/passado, "o que significa que talvez venha a confirmar-se no futuro que sucederam certas coisas no passado". O "terá" apresenta-nos toda uma nova forma de fazer jornalismo na medida em que eu posso fazer uma notícia de primeira página que diz "Bruno de Carvalho terá ameaçado Marco Silva para ele começar a ganhar jogos" e ninguém me pode processar por isso. Estou a inventar, mas no futuro pode até confirmar-se que esta minha invenção está certa. Mas ainda mais preocupante que o "terá" (que para mim é dos termos jornalísticos mais geniais alguma vez criados) são as outras duas palavras do artigo. Ponto 1: quem é o Tierry?! Foi preciso ir aos comentários para perceber que é um desses da casa dos segredos. Não sei desde quando é que os participantes da casa dos segredos são assunto de importância nacional, mas talvez seja eu que sou conservadora. Ponto 2: é uma notícia assim tão escandalosa um participante da casa dos segredos ter gonorreia? E o que é isso me interessa? Seria mais relevante para a sociedade se me avisassem que ele está engripado na medida em que assim, caso passasse por ele (e o reconhecesse) podia desviar-me e evitar ficar contagiada. 

Passemos à segunda "notícia" do lado direito. Conheço imensas pessoas que defendem que o Record é melhor que A Bola. Claro que é. Copia notícias da Lusa sem emendar erros e presenteia-nos com este tipo de artigo. Ponto 1: ninguém quer saber do Benito. Eu até gosto dele e é por isso mesmo que o sigo no twitter. Não preciso que os ditos jornalistas me avisem sempre que um jogador do meu clube faz um novo post. Ponto 2: honestamente, quem é que quer saber se ele está "impressionado" com tanto acidente? Ontem ele também publicou uma foto no instagram, onde é que está o artigo sobre isso? Sinto que tenho de mudar a segurança da minha conta do twitter antes que o Record faça uma notícia com o twett meu - que diga-se de passsagem, interessaria mais do que a gonorreia do Tierry.

Depois destas beldades, fui obrigada a ver o telejornal da TVI. Sim, que aqui em casa é o meu pai que manda na televisão a menos que eu queira ver futebol. A TVI volta a presentear-me com o "terá", no caso específico na forma de "poderá ter". Ronaldo poderá ter uma nova namorada. O Gerrard vai sair do Liverpool, mas sobre isso nem uma notícia. Mas o Ronaldo tirou uma foto com uma jornalista da Real Madrid TV portanto poderá ter uma nova namorada. É pena ele não ter tirado uma foto comigo. Continuava pobre e desempregada, mas pelo menos famosa já era.

Se estiverem a precisar de alguém que produza conteúdo jornalístico, eu ando à procura de emprego e gostava efectivamente que fosse no mundo jornalismo desportivo. Além de saber escrever (que já é um factor diferenciador), também sigo os grandes astros do futebol mundial no twitter, facebook e instagram. Contactem-me.