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Isto É Peanurs

Letras com nota artística #7: "Believe"

 

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A parvoíce que vos trago hoje não foi ideia minha. Na verdade foi um pedido (sintam-se à vontade para fazer o mesmo), mas é sempre um prazer analisar as belíssimas letras que encontramos na Eurovisão. Vamos então recuar até 2008 e ouvir o vencedor desse mesmo ano: Dima Bilan com "Believe".

 

 

"Even when the thunder and storm begins
I'll be standing strong like a tree in the wind
Nothing's gonna move this mountain
Or change my direction

I'm falling off that sky and I'm all alone
The courage that's inside is gonna break my fall
Nothing's gonna dim my light within

But if I keep going on
It will never be impossible
Not today

'Cause I've got something to believe in
As long as I'm breathing
There is not a limit to what I can dream
'Cause I've got something to believe in
Mission to keep climbing
Nothing else can stop me if I just believe
And I believe in me

Even when the world tries to pull me down
Tell me that I can try to turn me around
I won't let them put my fire out
Without no

But if I keep going on
It will never be impossible
Not today

'Cause I've got something to believe in
As long as I'm breathing
There is not a limit to what I can dream
'Cause I've got something to believe in
Mission to keep climbing
Nothing else can stop me if I just believe
And I believe

I can do it all
Open every door
Turn unthinkable to reality
You'll see I can do it all and more.

Believing
As long as I'm breathing
There is not a limit to what I can dream
'Cause I've got something to believe in
Believing
Mission to keep climbing
Nothing else can stop me if just believe
And I believe me"

 

É possível que isto seja plágio de um dos livros do Gustavo Santos. Acredito que os ensinamentos fundamentais desta canção estão logo no segundo verso: "vou manter-me forte como uma árvore ao vento". Das duas uma: 

  • Ou na Rússia não há dias dignos daquela parte do "The Day After Tomorrow" em que os furações até arrancam prédios;
  • Ou em Portugal as árvores são muito mariquinhas. Vem um rajada a 10 km/h e as árvores já estão todas em cima de casas e de estradas.

 

Felizmente nesse mesmo verso percebemos claramente que a alusão à árvore é uma mera comparação (má, mas é). No verso seguinte o homem afirma-se como sendo uma montanha. Não há cá comparações, é uma afirmação. Mas se ele é uma montanha, porquê comparar-se a uma árvore? E porquê dizer logo de seguida que nada vai alterar a sua direcção? Amigo, se és uma montanha dificilmente tens uma direcção e ainda menos alguém consegue alterá-la.

 

Vamos imaginar que este belo poema é como os Lusíadas onde a continuação de uma frase, se fosse preciso, estava no canto seguinte. Partindo do princípio que o seguimento de "I'm falling off that sky and I'm all alone" é "But if I keep going on" ou que pelo menos as duas estão relacionadas e partindo também do princípio que os ensinamentos do catolicismo estão correctos e o inferno é debaixo da terra, é capaz de ser perigoso ele cair do céu e continuar sem parar.

 

Passemos para o refrão. Atenção: o Dima Biland acredita nele. Óptimo. Sabendo isso vou dormir muito melhor esta noite. Agora há uma coisa que me faz confusão. Não há nada com que ele não consiga sonhar? Nada? Ele que experimente sonhar com uma nova cor. Vá, força nisso!

 

Para terminar, parece-me que há outro ensinamento fundamental nos versos anteriores ao último refrão: o Dima Bilan é uma chave mestra. Não sou eu que estou a inventar. É ele que o diz. Pelo menos é a única explicação lógica que eu encontro para o verso "Open every door". Ora isto assusta-me e, ao mesmo tempo dá-me a esperança de um dia também poder vir a ser uma chave mestra e conseguir abrir a porta de minha casa sempre que me esquecesse da chave. A partir de hoje o meu objectivo de vida é ser simultaneamente uma montanha e uma chave mestra. Como é que eu vou conseguir isso? Epa, é acreditar em mim! 

Resoluções

"No próximo ano as coisas vão mudar. Vou beber menos cerveja e começar de novo. Vou ler mais livros, vou acompanhar as notícias, vou aprender a cozinhar e gastar menos dinheiro em sapatos. Vou pagar as minhas contas dentro do prazo, vou organizar o meu mail todos os dias. Só vou beber do melhor vinho e ligar à minha avó todos os domingos. 

 

Resoluções de ano novo vão e vêm. Será que vou fazer alguma destas coisas? A resposta provavelmente é não".

 

 

É aquela última frase que me chateia. Toda a gente faz listas de coisas que quer fazer num ano, mas nunca as cumprem. É preferível seguir a minha lógica de não fazer resoluções de ano novo.

 

P.S. Além das aspas nota-se muito que estou a citar?

Sobre o concerto do David Fonseca na sua terra natal

Já tinha dito aquando do post sobre o concerto mais pequeno do mundo sobre rodas que ia ver o concerto do David Fonseca dia 10. E fui. Felizmente a Sara foi suficientemente fixe para não me deixar ir sozinha e ainda aproveitámos a ocasião para fazer troca de prendas (agora tenho 76 pares de brincos)!

Teatros nunca foram nem hão-de ser o melhor local para assistir a concertos. As cadeiras levam a que fiquemos sentados quando na verdade devíamos estar de pé a aplaudir até à exaustão. E o público leiriense é difícil. Mesmo com um artista da terra. Não deixa de ser engraçado o facto de ter visto pessoas de todas as idades. De facto, o David há-de ser um dos artistas que conheço com o público mais heterogéneo de sempre. Dos mais novos aos mais velhos, homens e mulheres, quem gosta de música com toques de rock, gosta dele.

O concerto abriu com "Futuro Eu" e "Chama-me Que Eu Vou", os dois primeiros singles do álbum. Era proibido tirar fotos. E quando digo "proibido", é mesmo isso que quero dizer. As "senhoras do teatro", como o cantor lhes chamou, passaram o concerto "em cima" das pessoas que tentavam sequer mexer no telemóvel. Leiria é provavelmente a única cidade do país onde "é proibido filmar ou tirar fotos" significa "é proibido filmar ou tirar fotos" (o que não me faz confusão tendo em conta a pobre qualidade da câmara do meu telemóvel).

Mas o concerto continuou com uma fraca interacção com o público que achei estranha. Foi com essa interacção que fiquei super fã do David. Fui vê-lo no ano passado ao Casino de Lisboa sem conhecer grande parte das suas músicas e ele convenceu-me com aquele lado mais louco em palco e com a forma como falava com o público. Eu e a Sara ainda tentámos algures começar a aplaudir no meio de uma música. Não funcionou. Imediatamente antes da minha canção preferida ("Superstars") eis que o David decide realçar aquilo em que já todos tínhamos reparado: estar num teatro numa cidade tão pequena, impede o público de "soltar a franga". Levanta-se metade da sala para dançar (ou fazer o que eu faço que não é bem o mesmo) ao som de "Superstars". As pessoas atrás de nós estavam sem vontade, mas lá tiveram de resistir à tentação de estar sentadas.

Ouvimos a história do Pedrógão (de que já tinha falado no post do concerto mais pequeno do mundo) e ouvímos também a história de um indivíduo que pôs no OLX um anúncio deveras peculiar que, infelizmente, já não está online. Mas era um homem à procura de companhia para ir ao concerto do CCB. Mas tinha de ser uma mulher culta, se fosse burra já não servia.

Houve dois encores. O que é estranho, mas genial. Eu sempre disse que, se fosse cantora, ou não fazia encore ou fazia mais que um para ver quem se ía embora. Foi o concerto mais longo a que assisti. "No máximo à meia-noite estou em casa", disse eu aos meus pais. À meia-noite estava o concerto a acabar e começou por volta das 21.45 (mais coisa, menos coisa). Ainda houve tempo para se bater um recorde do guiness (ou, neste caso, criar um novo). Isto porque, diz o David, as autarquias têm todas um livro de recordes do guiness para quando algo corre mal. "Epa isto está mau, o pessoal já não simpatiza comigo, que recorde é que podemos bater?". Nesse dia tinha sido a de maior árvore de pessoas do mundo. Acho que ele se esqueceu que, a uns metros do Teatro, estava uma árvore de Natal de paletes no centro de Leiria também no guiness (quem é que se lembra de fazer um recorde destes?). Ele também queria estar no livro. Como a canção mais pequena do mundo era impossível de rivalizar (é só uma nota) e a maior tem dois meses, decidiu fazer a menor canção e menor aplauso do mundo. 

A única coisa que me "chateou" foi de facto o público até certo ponto. Mas acabou toda a gente (à excepção das duas ou três filas à minha frente) a dançar e cantar ao som de "What Life Is For". Voltava a pagar os 14.5€ sem qualquer problema. Mas queria ir para a fila da frente, para onde havia dois lugares livres (morram pessoas que compraram os bilhetes e não foram!). Mesmo que fosse para ouvir "canções tipo Festival da Canção de 1970". É uma pena Leiria não ser Nova Iorque. Se fosse, não seríamos apenas nós os sortudos que podem ouvir e ver o melhor artista deste país!

 

Não posso precisar a ordem das canções, mas fica aqui o alinhamento (se a minha memória não me falha):

- Futuro Eu

- Chama-me Que Eu Vou

- Superstars

- Stop 4 A Minute

- Someone That Cannot Love

- Deixa Ser

- Só Uma Canção No Mundo

- Sem Aviso

- U Know Who I Am

- Funeral

- Hoje Eu Não Sou

- Cry 4 Love

- Agora É A Nossa Vês

- Não Dês Só P'ra Tirar

- Eu Já Estive Aqui

- What Life Is For

- Deixa A Tua Voz Depois do Tom

- The 80's

- Kiss Me, Oh Kiss Me

 

E deixo o vídeo partilhado pelo cantor no facebook no final do concerto:

 

 

 

Leiria!!!

Publicado por David Fonseca em Quinta-feira, 10 de Dezembro de 2015

E já agora a música de Natal deste ano com voz gravada enquanto conduzia. Também sou excelente a cantar enquanto conduzo. Pelo menos o carro nunca se queixou!

 

 

Concerto mais pequeno do mundo sobre rodas com David Fonseca

Já todos ouviram falar no concerto mais pequeno do mundo. É uma iniciativa da Comercial em que um artista actua perante um pequeno grupo de pessoas (geralmente num hotel em Lisboa ou no Porto). A ideia aqui é a mesma, mas com o bónus de percorrer várias cidades do país. Durante a semana passada (nos cinco dias úteis) David Fonseca percorreu dez cidades do país (duas por dia) e convidou os seus fãs a entrarem numa auto-caravana para o ouvirem. Não era preciso inventar frases bonitas ou acumular gostos num qualquer comentário no facebook. Bastava aparecer e levar a peça de fruta que era pedida um pouco antes (frutas essas que foram entregues a uma associação).

 

 

Já tinha dito que andava viciadíssima no mais recente álbum do David Fonseca e não havia outra solução que não fosse ir a Leiria na passada sexta-feira para fazer parte desta iniciativa genial. "Vou lá vê-lo e assim já não gasto 15€ no bilhete para ir ao concerto", dizia eu. Não podia estar mais enganada. Ter feito parte desta experiência só fez com que eu tivesse a certeza de que tinha de pagar os 15€ para o concerto de dia 10. Confesso que sou o género de pessoa que quase se recusa a pagar artistas portuguesas porque, mais tarde ou mais cedo, vou poder vê-los numa qualquer festa de verão gratuitamente. Mas desta vez paguei. A verdade é que sou forreta, mas quando se trata de gente que eu admiro, deixo isso de lado. E uma tour de promoção de um álbum inteiramente em português de um cantor que sempre me habituei a ouvir em inglês merece que eu lá esteja. Sobretudo porque o álbum é completamente genial. Desde as canções, ao conceito, às formas de promoção que não lembram a ninguém.

 

Eram 18h e lá estava eu prontinha para ir para uma fila (que já tinha oito pessoas) em frente ao mercado de Sant'Ana (lugar escolhido para estacionar a auto-caravana). Com uma maçã nas mãos (a fruta pedida) lá entrei juntamente com mais 11 pessoas e deixei outras tantas lá fora. O David lá nos contou que tinha deixado Leiria para último para ficar mais perto de casa e tentou que uma coluna funcionasse. Mas depois de tantos concertos durante a semana, decidiu fazer birra. Acabámos por ter direito a três canções em versão acústica. Não sou louca por acústicos como muita gente, mas soube bem ouvir "Chama-me que  eu vou" só ao som da viola. A juntar a esta canção (que está na minha cabeça há semanas) ouvimos também "Deixa Ser" e "Não dês só p'ra tirar" (a culpada de o álbum ser em português).

 

 

Tivémos direito a ouvir um episódio da vida do cantor passado no Pedrógão (aquele lugar para onde toda a gente da zona vai de férias menos eu, que odeio praia) e no final recebemos todos um CD. Juro. CDs para todos. Não podem imaginar a minha felicidade a receber aquele "Futuro Eu". Estava na minha lista de prendas de Natal, mas o Pai Natal não o ia trazer autografado. 

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Felicidade ao mais alto nível...

Vamos fazer um exercício. Pensem na vossa banda preferida. Agora imaginem que essa mesma banda decide que se vai separar. Conseguem imaginar? Eu não só consigo imaginar, como sei perfeitamente o que é. Estão a ver os Keane? Sim, esses mesmo que estavam cá mil e uma vezes em cada tour. Separaram-se há pouco menos de dois anos e ontem deu-me a nostalgia. Abri o spotify e tudo muito bem até que aparece uma música que eu não conheço. É nesse momento que me apercebo que nunca ouvi os mil e um b-sides deles. Felicidade suprema. Podem adivinhar o que está neste momento no meu windows media player.

E, coincidência das coincidências, foi precisamente há dois anos que os vi ao vivo (sim, eu decoro datas destas, mas esqueço-me de aniversários dos amigos) na Expofacic. Quando a Expofacic não era só Anselmo e afins. Curiosamente foi um drama para conseguir ir vê-los. Nem imaginam o que foi convencer os meus pais a deixarem-me levar o carro (sim, eu sou uma péssima condutora e nem fazia/faço ideia onde raios é cantanhede), mas com persistência  (e teimosia) tudo se consegue. E sabem quanto é que paguei para ver a minha banda preferida? 9€. Juro. 9€. É por isso que agora não pago para ver quase ninguém. Se os Keane só valem 9€, não há por aí muitos que possam valer mais. Pelo menos não no panorama do rock alternativo ou piano rock, ou o que lhe queiram chamar. Conjugar as músicas do Tim (e a genialidade dele enquanto pianista) e a voz fenomenal do Tom numa banda não é fácil. E torna-se ainda mais difícil quando o mercado começa a exigir coisas mais pop. Mas os Keane nunca fugiram ao estilo deles. É por isso tudo e muito mais que são a minha banda preferida.

E porque recordar é viver:






Letras com nota artística #3: Dunas

Depois de duas análises de duas letras diferentes [aqui] e [aqui], parece-me a altura ideal para apostar na análise de uma música conhecida de todos. Falo daquela que é a primeira música que toda a gente aprendeu a tocar na viola (toda a gente menos eu que para ler uma pauta preciso de um dia inteiro): as Dunas, dos GNR.

Na verdade apercebi-me do quão ridicula é a letra ontem quando fui ver o concerto da banda ao Bodo. Atentem então na letra de "Dunas":


"Dunas, são como divãs,
Biombos indiscretos de alcatrão sujo
Rasgados por cactos e hortelãs,
Deitados nas Dunas, alheios a tudo,
Olhos penetrantes,
Pensamentos lavados.

Bebemos dos lábios, refrescos gelados (refrão)
Selamos segredos,
Saltamos rochedos,
Em câmara lenta como na TV,
Palavras a mais na idade dos "PORQUÊ"

Dunas, como que são divãs
Quem nos visse deitados de cabelos molhados bastante enrolados
Sacos camas salgados,
Nas Dunas, roendo maçãs
A ver garrafas de óleo boiando vazias nas ondas da manhã

Bebemos dos lábios, refrescos gelados,
nas dunas!
Em camara lenta como na TV,
Nas dunas..
Nas dunas..
Naasss duunas...
Naasss duunas..
Refrescos gelados...
Como na Tv.
Nas duunas.."

Importa antes de mais nada apresentar algumas definições que me parecem relevantes para uma análise cuidada deste belo poema. Todas as definições são do priberam, que eu não ando aqui a inventar nada.

Dunas: monte de areia acumulada pelo vento à beira-mar.


Divãs: espécie de sofá; colecção de poesias árabes; conselho de Estado (na Turquia); sala onde o divã funciona. (vamos acreditar que se referem ao sofá que de poesias árabes e conselhos de estado turcos não sou uma pessoa tão entendida).


Numa abordagem menos realista, até consigo entender que as dunas sejam como divãs. Principalmente na altura em que a música foi lançada. Lembram-se? Quando havia realmente dunas? Quando não era preciso levar areia para a praia? Ah, que saudades desses tempos! Com o primeiro verso tudo bem, certo?

Mas então de onde raios vêm os biombos? Mas isto não são uns biombos quaisquer (ou quaisqueres, que de vez em quando uns pontapés na língua portuguesa também ficam bem na blogosfera) são "biombos indiscretos de alcatrão sujo rasgados por cactos e hortelãs". Este dois versos davam para analisar durante mais tempo que os dez cantos dos Lusíadas. 
  • Ponto 1: claro que os biombos são indiscretos. São coisas (a meu ver inúteis) enormes que ocupam imenso espaço. Para serem discretos precisavam do manto da invisibilidade e é possível que o manto fosse pequeno demais para os tapar.
  • Ponto 2: se os biombos são de "alcatrão sujo", como é que podiam ser discretos? 
    • Ponto 2.1: onde é que se arranjam biombos de alcatrão? É que eu estou a pensar ligar ao Gustavo Santos para me vir mudar a casa e gostava de ter um biombo de alcatrão, mas do lavado.
  • Ponto 3: os cactos rasgam alcatrão? Brilhante. E a hortelã? Rasga alguma coisa?
Passemos à frente. Eu costumo beber de copos ou garrafas. Eles bebem dos lábios. A menos que sejam os lábios da Manuela Moura Guedes, são capazes de ficar com sede. Depois de se refrescarem, gelarem e selarem segredos vão praticar parkour, mas nos rochedos, que não é tão perigoso. Fazem isto tudo em câmara lenta, como na TV. É certo que eu não via a televisão desta altura, mas era assim tudo tão vagaroso? É que agora é ao contrário. É sempre a despachar, a menos que o Paulo Bento esteja a falar. Aí precisamos de meia hora para ouvir uma frase.

Para terminar, se alguém me conseguir dizer o que é a "idade dos porquê", ganha uma conjunto de maquilhagem e cremes. (Ok, não ganha nada, mas estou a adaptar-me à blogosfera e parece que isto faz parte).


Conclusões: as letras dos GNR (que ontem apercebi-me que são todas dentro deste género) são frases soltas (ou mesmo palavras). É mais ou menos o que o Reininho faz quando fala. Diz umas palavras. Às vezes forma uma frase, outras tem menos sorte (e eu faço parte do grupo de pessoas que adora o homem). As letras dos GNR são mais ou menos como os poemas do Fernando Pessoa, a diferença é que rimam.

Se se lembrarem de letras deste nível, avisem. É possível que isto seja a minha vocação.

MEO Marés Vivas

Não sei bem onde é que fui buscar a ideia de que tenho espírito festivaleiro. Não tenho. A minha mãe percebeu isso no momento em que eu lhe disse que ia ao Marés Vivas. Eu percebi quando me sentei às 20h em cima de pedras e terra à espera dos concertos. O meu espírito é mais o da preguiça extrema, mas o preço dos bilhetes compensava os dois concertos que queria ver (que podiam muito bem ter sido os primeiros da noite para me poder sentar mais cedo). Mas passemos ao que interessa.

Depois de umas horas na invicta (onde as pessoas parece que não sabem ser antipácticas) rumei a Gaia e à terra e pedras que me acolheram durante mais de seis horas em pé. É possível que esta tenha sido a vez que fiquei mais perto do palco e simultaneamente aquela em que menos vi. Isto de ter pouco mais de um metro e meio é complicado.


A noite começou com The Black Mamba. Não conhecia (aliás, conhecia uma música), mas acabei por gostar. Não passei a ser fã, mas foi um bom início de noite.

Seguiu-se a madrinha do festival: Ana Moura. Tenho de confessar que não gosto lá muito de fado. Já sei, os portugueses têm de gostar todos de fado e não gostar é quase um crime. Too bad. Eu passo bem sem fado, mas até achava que ia gostar de ver a Ana Moura ao vivo. Não podia estar mais enganada. Foi bastante mau. A voz dela estava uma miséria (não sei se é sempre assim nem me interessa) e o concerto foi também uma miséria. Para mim foi a pior da noite e demorou imenso tempo. Chegou a altura em que me sentei, eu e muitas outras pessoas que se fartaram tal como eu e ainda tinham muitas horas de espera pelos The Script (que era o que a maioraia estava ali para ver).

Seguiu-se um mini-intervalo com o pessoal das manhãs da comercial. Até parei de "jantar" e me levantei. Depois veio o grande, enorme, fantástico e fenomenal Jamie Cullum, mas disso falo mais à frente.


Os The Script fecharam o MEO Marés Vivas deste ano. Eram a banda que a maioria queria ver e não desiludiram. O Danny nem sempre tem a voz no seu melhor, mas felizmente não desiludiu. A setlist foi reduzida em relação ao concerto do MEO Arena de Abril, mas foi na mesma um bom concerto. Foi só bom porque depois de Jamie Cullum, ninguém consegue ser assim tão bom (e olhem que eu há anos que adoro The Script). Vale a pena também dizer que The Script é bom mas não pelo álbum '#3'. É pior álbum deles e aquele que os fez ganhar mais fãs. É triste, mas verdade.



Falemos então agora do melhor da noite. Ladies and gentleman: Mr. Jamie Cullum. Tem ar de quem fez um pacto com o diabo para ficar eternamente jovem, mas já tem uma carreira com mais de 10 anos. Acredito que muitos não o conhecessem e tenham saído de Gaia fãs. Porquê? É difícil explicar. Jamie Cullum é o artista mais completo que conheço. É voz, é piano, é tambor, é beatbox, é coisas estranhas no piano, é tudo e mais alguma coisa. É completamente indiscritível. 


O triste no meio disto tudo foi uma rapariga que estava à minha frente e se sentou a meio do concerto. Pior: começou a ouvir música no telemóvel. Ora, eu posso até ser estranha, mas desconfio ser impossível ouvir melhor música que a do Jamie ao vivo. Mesmo que não se goste de jazz. Eu também não gosto, mas é preciso dar o braço a torcer. Depois desta sentou-se uma atrás de mim. Felicidade suprema. Já nem sei que música é que começou a dar mas as pessoas começaram a saltar. Eu, no micro-espaço que tinha entre as duas não-apreciadoras-de-música-a-sério, pus-me a saltar também. Achei que ia cair para cima delas, mas eu paguei para me ficarem a doer as pernas à séria. E a garganta. Sim, porque a probabilidade de eu ter sido a pessoa que mais gritou naquele concerto é enorme, o que fez com que os The Script merecessem pouquinhos gritos meus.


É preciso referir que fiquei fã de Jamie Cullum a praticar um dos meus desportos preferidos: zapping. Exacto. Estava a passar canais e na BBC Entertainment (aquele canal em que só dá o Elo Mais Fraco) estava a dar este concerto que acabei por ver até ao fim. Já conhecia as músicas mais famosas e inclusive lembrava-me de "Don't Stop The Music" que foi um cover muito falado na altura (juro que me lembro de uma notícia da RTP sobre isso e tudo) e depois de ver o concerto fiquei mesmo fã. Agora estou ainda mais.


O concerto só pecou mesmo por uma coisa e uma coisa muito grave. Eu sei que ele tem pouco mais de um metro e 60, mas não é preciso fazer os concertos à medida dos interpretes. Foi realmente um concerto pequeno com poucas músicas, senão vejamos (se a memória não me falha):

The Same Things
Get Your Way
Frontin'
High And Dry
Everlasting Love
Don't Stop The Music
Mixtape
When I Get Famous (depois de contar que a música é sobre um rapaz de quem as raparigas da escola não gostavam e que agora é relativamente famoso)
Love For Sale
Everything You Didn't Do
All At Sea
I'm All Over It

No final do concerto o britânico disse que voltava a Portugal quantas vezes nós quisessemos. Se assim fosse realmente mudava-se para minha casa ou para a dos meus vizinhos para eu o poder ouvir sempre que quisesse. E a parte mais gira é eu estar a dizer isto sem ele ter cantado "Twentysomething", "You And Me Are Gone", "Save Your Soul" e "You're Not The Only One" que são algumas das minhas preferidas. Se fosse eu a fazer a setlist até falecia de tanto guinchar!


Conclusões: a partir de sábado, o Jamie pode voltar a Portugal sempre que quiser, que eu estou lá. Nem que seja sozinha. 

E agora tirem uma hora do vosso tempo e vejam isto porque vale MUITO a pena:

Os "fãs" pedem... e eu faço

Rita Pereira (uma rapariga com o mesmo nome da actriz, mas bastante mais talentosa que ela), possivelmente a única pessoa que se ri das minhas piadas porque não convive diariamente comigo, pediu-me que analisasse a letra da música (?) "Girl From Sweden" do cantor (?) sueco Eric Saade. Eric Saade é "conhecido" do público pela participação no Festival Eurovisão da Canção 2011 onde alcançou o 3.º lugar com uma música cujo refrão era o seguinte:

"I will be popular
I will be popular
I'm gonna get there
Popular.

My body wants you girl
My body wants you girl
I'll get you when I'm popular"

Ah! Até me revigora a alma tanta profundidade. Este ano regressou ao Festival da Canção sueco (que é bastante mais interessante que o português), com "Sting", uma bela canção (?) com versos como "It's gonna sting so bad, it's gonna drive you mad" e "I knew you before you were a cool kid, so screw you". Agora que já perceberam que a qualidade literária reina para estes lados, apresento-vos "Girl From Sweden": 

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A qualidade literária da Eurovisão

Já aqui tive o prazer de analisar letras inovadoras e deveras interessantes do Festival da Canção. É a vez da Eurovisão. Não se pense que a Eurovisão é só um festival de política onde só ganha quem tem interesse/dinheiro para organizar o evento no ano seguinte. A Eurovisão é bem mais que isso, e aqui fica a prova.


De seguida um conjunto de letras que acho deveras interessantes e que pisaram o palco eurovisivo na semana passada.


"And i was playing with numbers, and I didn't now what it meant" - Irlanda

A menos que brincar com os números se refira ao famoso jogo "24" não faço ideia do que ela possa estar a falar.


"We're gonna rapapap rapapap tonight" - Bélgica

Exacto. "Rapapap" era mesmo o que me apetecia fazer esta noite. 


"Vejo se me endireito mas falta-me a vontade"
"Se é o mar que nos separa, vou secá-lo de saudade" - Portugal

Para quem não tem vontade de fazer nada, está muito convicta de que vai secar o mar só com saudade (como se pôr "mar" e "saudade" na mesma frase não fosse um requisito para participar no Festival da Canção). Mais facilmente bebes a água toda do mar do que o secas com saudade, mas força nisso!


"And before I leave, let me show you Tel Aviv"
"Gotta go, three minutes, bye bye" - Israel

Alguém que erga uma estátua ao letrista desta música por favor, porque isto são os melhores versos da história eurovisiva. 

E de seguida o poema completo da música finlandesa (e juro que isto é verídico):

"Tenho sempre de limpar
Tenho sempre de lavar a loiça
Tenho sempre de ir trabalhar
Tenho sempre de ir ao médico

Não posso usar o computador
Não posso ver televisão
Nem posso ver os meus amigos

Tenho sempre de estar em casa
Tenho sempre de tratar das coisas
Tenho sempre de comer bem
Tenho sempre de beber bem

Não posso comer doces ou beber refrigerantes
Nem posso beber álcool

Tenho sempre de descansar
Tenho sempre de dormir
Tenho sempre de me levantar
Tenho sempre de tomar banho"

...

Já tinha dito aqui que fui ver os The Script. Foi tão bom que só uma semana e um dia depois é que consigo atrever-me a descrever o concerto em palavras (ok, a verdadeira razão resume-se numa palavra: preguiça).



Depois de uma primeira parte tenebrosa cheia de rap que toda a gente parecia conhecer menos eu (ao que parece as pessoas que ouvem The Script são as mesmas que ouvem rap, ou então só conhecem o "Hall of Fame" e foram na esperança que fosse tudo igual). Felizmente o rap demorou pouco tempo e lá subiram ao palco os irlandeses. Atrás de nós havia um grupinho de miúdas que ficaram chocadíssimas com a bandeira da Irlanda (uma informação que os fãs desconhecem, obviamente).

Em duas horas de concerto houve tempo para imensa coisa. Começámos com "Paint The Town Green", uma das minhas preferidas e acabámos com "Hall of Fame", muitos confetis no ar e uma dor de garganta daquelas! Houve tempo para luzes 3D fenomenais, drinking games e imensa interacção com o público.

Momentos da noite? Dois. Quando o Danny pediu a alguém que lhe emprestasse o telemóvel para ligar a um(a) ex-namorado(a). Sim, em pleno concerto ele ligou à ex-namorada de um rapaz que estava a assistir ao concerto, cantou-lhe "Nothing" e no final despedimo-nos todos da Mariana dizendo "Goodbye asshole". Claro que isto não é novo nos concertos deles, mas não deixa de ser épico!


Outro dos grandes momentos foi "The Man Who Can't Be Moved". Primeiro porque foi uma versão diferente da original, acompanhada apenas ao piano. A música "acabou" e, sem ter sido combinado (ou se foi, eu não sabia e não me parece que a maioria soubesse), milhares de pessoas aplaudem enquanto cantam "i'm not movin', no i'm not movin'". E mesmo eu, que não ligo nada a isto, achei isto bonito! 


Foi bom também o facto de o álbum #3 ter ficado um pouco "esquecido" no meio da setlist. Houve os inevitáveis "Hall of Fame" e "If You Could See Me Now", mas pouco mais do álbum que considero de longe o pior deles. Assim sendo ouviram-se no palco do MEO Arena estas músicas:

Paint the Town Green (que é uma música tão bem construída e pensada e com uma letra tão boa que até custa a acreditar que existe)
Breakeven (o clássico!)
Superheroes (cantada pelos milhares que estavam no MEO Arena)
We Cry (só a parte final da música porque desconfio que, tal como eu, o Danny também não consegue decorar a letra toda)
Man on a Wire (que tem daquele videoclips que vale muito apenas ver)
Nothing (a tal cantada à Mariana que chegou a desligar o telefone mas recebeu outra chamada logo a seguir)
Good Ol' Days (logo a seguir a um drinking game entre o Danny e o Mark)
Never Seen Anything "Quite Like You" (e eu passava bem com esta a ser substituída pelo "Without Those Songs)
You Won't Feel A Thing (cantada enquanto o Danny andava "perdido" no meio da plateia)

Depois disto, e porque sei que a minha opinião conta imenso, vale a pena referir que os The Script regressam a Portugal a 18 de julho para encerrar o MEO Marés Vivas.