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Isto É Peanurs

Letras com nota artística #9: "Pica do Sete"

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Já há uns tempos que me ando a questionar sobre esta música e sempre que a oiço penso "tenho de escrever sobre ela" mas, como todas as ideias que tenho, isso acaba esquecido naquele lugar do meu cérebro que armazenou toda a história da arte dada no 12.º ano. Na semana passada estava a ver a gala do Benfica e quem é que aparece para cantar? O António Zambujo. E o que é que ele canta? O Pica do Sete. Foi então que se fez luz. Atentem na letra:

 

 

"De manhã cedinho

Eu salto do ninho e vou p'rá paragem

De bandolete à espera do 7

Mas não p'la viagem

 

Eu bem que não queria

Mas um certo dia vi-o passar

E o meu peito céptico

Por um pica de eléctrico voltou a sonhar

 

A cada repique

Que soa do clique d'aquele alicate

Num modo frenético

O peito céptico toca a rebate

 

Se o trem descarrila

O povo refila e eu fico num sino

Pois um mero trajecto

No meu caso concreto é já o destino

 

Ninguém acredita no estado em que fica o meu coração

Quando o 7 me apanha

Até acho que a senha me salta da mão

Pois na carreira desta vida vã

Mais nada me dá a pica que o pica do 7 me dá

 

Que triste fadário que itinerário tão infeliz

Cruzar meu horário com o de um funcionário de um trem da Carris

Se eu lhe perguntasse se tem livre passe para o peito de alguém

Vá-se lá saber talvez eu lhe oblitere o peito também

 

Ninguém acredita no estado em que fica o meu coração

Quando o 7 me apanha

Até acho que a senha me salta da mão

Pois na carreira desta vida vã

Mais nada me dá a pica que o pica do 7 me dá"

 

Ponto 1: alguém disse ao Zambujo que não há nenhum elétrico com o número 7 em Lisboa? "Ó Jessica mas quem é que te diz que a história da música se passa em Lisboa?". É uma questão pertinente e basta olhar para o videoclip para perceber que este elétrico é, de facto, o 15 e não o 7 (até porque o 7 não existe). Se era para escrever uma música sobre elétricos, escolhia um número entre o 15, 18, 25 ou 28. Outra coisa interessante no vídeo é o tempo que demora o percurso. Notem que ela entra no elétrico "de manhã cedinho", anda um bocado, entretanto é noite e depois volta a ser dia. De facto já cheguei a fazer o percurso completo do 15 e parece demorar um dia inteiro.

 

Mas passemos à letra que é para isso que eu cá estou. Numas festas da terrinha há uns meses estava a dar esta música e eu comentei com a Sara a minha indignação em relação ao facto de não haver um elétrico 7 em Lisboa e foi aí que ela me alertou para outro problema nesta letra. Pensava eu que o rapaz ficava com a pica por causa da rapariga que estava no elétrico. Afinal não. Quem lhe dá pica é o pica ("mais nada me dá a pica que o pica do 7 me dá"). Claro que este verso funciona em termos métricos bastante bem e por isso faz sentido tê-lo na música. O problema é que no resto da música temos mais indícios de que o Zambujo está perdido de amores por um pica da carris, senão atentem nos versos: "E o meu peito céptico/Por um pica de eléctrico voltou a sonhar"  e "Cruzar meu horário com o de um funcionário de um trem da Carris".

 

Seria de esperar que estes fossem os únicos problemas desta letra, certo? Errado. Atentem na primeira estrofe: "De bandolete à espera do 7/Mas não p'la viagem". Calma lá, então ela está na paragem, à espera do elétrico mas não está à espera da viagem? Então está na paragem a fazer o quê? A apreciar a vista? Há muitos miradouros em Lisboa para fazer isso. 

 

(Eu sei que a quantidade de vezes que disse elétrico neste texto é absurda)

Expressões parvas usadas pelos portugueses

A língua portuguesa é rica em figuras de estilo e a metáfora é uma das mais utilizadas sobretudo em expressões do nosso dia-a-dia. Qualquer estrangeiro que nos oiça a dizer uma das 10 frases que se seguem fica a olhar para nós como se fossemos as pessoas mais estranhas. Porquê? Porque, de facto, a grande maioria delas são parvas e não têm nada a ver com o seu significado.

 

Passar pelas brasas

 

Porque dizer a alguém que essa pessoa acabou de dormir uma sesta é demasiado mainstream, diz-se que a pessoa acabou de passar por brasas. Ou seja, em vez de nos referir-mos a dormir, falamos de brasas. Porque é que não dizemos então "passar pelos fósforos" ou "passar pela lenha"?

 

Valer a pena

 

O meu pai costumava responder tantas vezes à expressão "não vale a pena" com um "vale a galinha" que eu acabei por ganhar essa mania e digo-vos que é extremamente irritante. Mas de facto qual é a lógica de dizer que algo vale ou não a pena em vez do esforço? Não iria dar ao mesmo dizer esforço em vez de pena? Claro que sim, mas os portugueses acham que não vale a pena (nem a galinha) falar como pessoas normais.

 

Muitos anos a virar frangos

 

"Como é que fazes isso tão bem?" "Olha, são muitos anos a virar frangos". Felizmente os meus talentos são pouco mais que nenhuns e, por isso mesmo, ninguém me pergunta como é que eu sei fazer o que quer que seja. Evitam-me o trabalho de usar esta expressão ridícula.

 

Bater as botas

 

Não, a sério, alguém pensou que bater botas não tem absolutamente nada a ver com morrer? Quem é que inventou isto? E quem é que achou esta metáfora tão genial ao ponto de a usar?

 

Apanhar ar

 

As pessoas dizem constantemente (principalmente nos filmes porque na vida real ninguém usa esta expressão) que precisam de apanhar ar e, no entanto, eu nunca vejo ninguém realmente a apanhar ar. Não sei se é mais estúpido alguém dizer que precisa de apanhar ar ou dizê-lo e não o ir apanhar. Esta expressão só faz sentido para aquela pessoa que decidiu fazer da venda de ar de Fátima um negócio.

 

Ter lata

 

Mas lata de quê? De tinta? De sumo? Ou uma daquelas que dão com as fitas de finalista na faculdade? Expressão demasiado genérica, há muitas latas no mundo.

 

Barriga a dar horas

 

Da mesma forma que a palavra saudade só existe em Portugal, as barrigas que dão horas também. É uma pena que a minha não seja dessas porque me poupava muitas idas ao telemóvel ver que horas são. Por outro lado o meu telemóvel serve para pouco mais que isso portanto talvez seja bom a minha barriga não dar horas.

 

Chorar sobre leite derramado

 

Já entornei muito leite na minha vida (sobretudo quando estou a abrir os pacotes) e isso nunca me fez chorar. Claro que toda a gente me chama insensível e portanto não sou o melhor exemplo. Digam-me, já choraram por leite derramado?

 

Procurar uma agulha num palheiro

 

Será que houve mesmo alguém a procurar uma agulha num palheiro? Será que alguém perdeu uma agulha num palheiro? Ou será que alguém escondeu uma agulha num palheiro? Não era mais simples comprar uma agulha nova? O que é que alguém foi fazer com uma agulha para um palheiro? A quantidade de perguntas geradas por esta expressão são imensas.

 

Sentir dor de cotovelo

 

Sim, porque quando se sente inveja de alguém começa-nos claramente a doer o cotovelo. A mim o cotovelo só me dói se bater em alguma coisa, e acreditem que eu sinto inveja. Ainda há dias a senti quando vi que alguém tinha ganho o Euromilhões.

Questões que assolam a humanidade #19

 

O que é uma cabeça-de-alho-chocho?

 

Interessa antes de mais esclarecer a grafia desta palavra. Diz a internet (porque, sabe-se lá como, nunca necessitei de escrever tal coisa em toda a minha vida) que se escreve com hífen, mas parece-me que com o novo acordo ortográfico isso possa ter mudado. Havendo falta de fontes fiáveis, vou manter os hífenes.

 

Uma pessoa apelidada de cabeça-de-alho-chocho é uma pessoa distraída (pelo menos assim o diz um qualquer dicionário online). Questão respondida. O que me incomoda são os vários significados da palavra chocho tendo em conta que nenhum deles se aplica a distração nem nada que se pareça. E, de todos eles (que podem ver aqui), há talvez um que se aplique a alhos, que é o primeiro. Agora expliquem-me lá porque é que há pessoas que insistem em usar esta expressão...